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Você sabe lidar com a morte e com o fim de um ciclo ou você tem dificuldade de lidar com tudo isso? Esse é um tema tabu na sua vida ou é tranquilo pra você? Quando falamos dos encerramentos – seja ele o fim de um trabalho, de um curso, de um relacionamento – como isso impacta sua vida?

Pra mim, lidar com a morte sempre foi algo muito natural, como a própria vida. Confesso que sempre achei isso muito estranho. Lembro da primeira morte que vivi de uma pessoa muito querida: a minha nona. Eu tinha 12 anos quando ela desencarnou. Ela estava doente há bastante tempo no hospital. A família já tinha sido chamada e eu estava na casa com meus avós paternos. Lembro que o telefone tocou, meu avô atendeu e me chamou para dar a notícia.

Eu já sabia e eu fiquei consternada porque não acessei choro nenhum. Busquei esse choro dentro de mim para ter uma reação normal. Imaginava que eu teria uma reação como a que muitas pessoas têm, que é quando a gente recebe a notícia da morte e entramos em choro profundo. Vivi poucas mortes na minha vida de pessoas onde de fato acessei choros profundos. Foram duas mortes de mulheres que me ensinaram muito durante a vida.

E você? Como costuma lidar com esse assunto?

A morte e o feminino

Quero falar sobre a nossa falta de habilidade para lidar com os encerramentos. Não só da morte, mas também com a morte dos ciclos de uma forma geral. Quando falamos de uma dificuldade de lidar com a morte, falamos de lidar com o feminino. O feminino como princípio, como essa força criadora e destruidora de tudo. Se tem algo que temos certeza é que vamos morrer um dia.

Quando falo em negar o feminino, da falta de habilidade para lidar com esses temas. As mulheres sangram todo mês, lidam com a morte todo mês, mesmo que não saibamos disso. O nosso sangue é o encerramento do ciclo de um óvulo que não gerou vida, não procriou. Ele morre e o sangue leva essa matéria orgânica que não produziu vida.

Lidar com a morte é muito feminino e, quando temos dificuldade de lidar com ela, normalmente temos dificuldade de lidar com nosso feminino e o feminino no mundo.

Os encerramentos e o controle

Outro motivo pelo qual temos dificuldade de lidar com os encerramentos é por conta da nossa necessidade de controle. A morte é a constatação maior da nossa falta de controle, da impermanência que é a vida. É o controle que tanto brigamos dentro da gente. Brigamos porque não é natural.

A nossa necessidade de controle vem contrapor e também por conta do nosso apego. Essa dificuldade de abrir mão, de soltar, deixar ir, dificulta nossa relação com a morte e com os encerramentos.

Sugestões para lidar com a morte

Quero deixar aqui três sugestões para quem quiser aprender a lidar com a morte e se relacionar de uma forma mais leve com os encerramentos.

1) Observe como você lida com os ciclos de uma forma geral

Essa pergunta é importante: como você costuma lidar com isso? Observe os ciclos e perceba como as coisas acontecem, têm seu ápice e começam a se recolher até morrer.

– O encerramento de um trabalho, de um curso que você começou e gostou muito;
– Observe seu ciclo menstrual e como você lida com ele;
– Se quiser, adote uma planta e observe o ciclo dela;
– Observe em qual ciclo da sua vida você está: na vida adulta, se está no momento de procriar (seja filho, projeto), se você está entrando na sua menopausa, como é lidar com isso? Se você nega o envelhecimento ou não;
– Se você está em um projeto ou em um trabalho, observe em que ciclo ele está;
– Observe como você lida com as estações do ano. Tem alguma preferida ou alguma que você rejeita? Se você tem dificuldade de lidar com o inverno, pode ser que você prefira os inícios. Isso pode te contar muito sobre a forma como você lida com os ciclos e, portanto, a forma que você lida com os encerramentos.

2) O que você sente diante dos encerramentos?

Você consegue nomear esse sentimento? É muito importante trazer essa consciência. O que sinto diante da morte, da perda de uma amizade, por exemplo.

Diante de uma amizade que está em pausa ou que se encerrou, o que você sente? Culpa, medo, vergonha, necessidade absurda de se segurar nessa amizade para que ela não vá ou você deixa essa amizade ir? Às vezes não é perder, às vezes é só um período.

Quando não deixamos morrer, não deixamos nascer. Ficamos ali apegadas ao velho. Tome consciência como é isso pra você.

3) Sugestão de prática

Vou compartilhar uma postura do yoga que, segundo alguns professores, é o asana mais desafiador de realizar. Aparentemente é o mais simples, mas o mais complexo porque ele não tem movimento. Estou falando do savasana ou postura do cadáver. Ele se chama assim porque nele ficamos totalmente entregues.

Como praticá-la: deite no chão com as palmas das mãos viradas para cima, encaixe o corpo e deixe o peso. Solte. É a postura que fazemos no final da prática do yoga. Por que é tão desafiador? Porque dificilmente relaxamos.

Essa postura é interessante para quem quer praticar a entrega. Faça cinco minutos antes de dormir no chão e não na cama, em um tapete de yoga. O corpo vai derretendo dos pés até a cabeça. Observe como você lida com essa postura. Quando sugiro essa prática, algumas pessoas dizem que é a melhor hora. Será que é esse o único momento que você se permite soltar o controle?

Esses momentos de pausa são fundamentais para quem tem o perfil muito controlador. Se você tem dificuldade, vai respirando e tentando soltar um pouco mais. Depois volta pra me contar. Como esses exercícios contribuem para você lidar com os encerramentos de uma forma natural.

Deixo aqui uma sugestão de uma prática de savasana guiada:

Benefícios de saber lidar com a morte

Quanto mais lidamos com a morte, melhor vamos lidar com a vida.
Mais abrimos espaço para o novo chegar.
Olhar para a vida com esse olhar natural, traz leveza. É libertador.

Imagine se nos apegarmos a tudo que passa na nossa vida. Vamos chegar no final da vida como acumuladoras, seja de experiências ou de pessoas que não deixamos ir. Essa relação de apego é natural. O problema é se eu não consigo lidar com a morte, se eu não deixo as coisas acontecerem como deveriam acontecer.

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Assista ao vídeo que fiz sobre o assunto:

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