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Você já ouviu falar que existe uma criança que mora dentro da gente e que ela precisa ser acolhida? Esse é um tema que me toca muito. É um exercício que uso com frequência no meu consultório como um caminho bonito de integração e de cura.

Quero compartilhar um pouco com você quais aspectos podemos observar para saber se a nossa criança interior está acolhida ou não.

Seguem algumas reflexões para você se autoavaliar:

– Já tentou mudar um hábito nocivo, que você não gosta, várias vezes e foi em vão?;
– Já teve a sensação de que existe uma criança birrenta dentro de você e que ocupa todo o seu espaço? Às vezes você pensa: “Por que tive essa reação?”;
– Você já viveu situações com reações desproporcionais sem motivo aparente? Alguém fez algo a você e sua reação foi muito maior do que você costuma ter?.

São reflexões que podemos fazer para ter pistas como a nossa criança interior está.

Mas o que é “criança interior”? Para explicar esse conceito, gosto de trazer a imagem da matrioska (também conhecida como boneca russa, é uma série de bonecas, feitas, geralmente de madeira, colocadas uma dentro da outra, da maior até a menor). Pra mim, somos essa boneca. Sou a Anita de 43 anos, mas também sou todas as outras idades que tive. Elas estão dentro de mim: a menina de 17 anos, a mulher de 30, a menina de 7, a recém-nascida, e por aí vai.

Respondemos, agimos e reagimos ao mundo a partir das experiências que vivemos. Mas muitas delas não foram acolhidas e cuidadas. Somos uma soma das nossas dores vistas e não vistas, conscientes e inconscientes. Nossas falas ditas e não ditas. Somos um compilado disso tudo. Por isso, somos tão complexas.

Acolher a criança interior nos apoia nesses momentos em que muitas vezes já olhamos para uma questão e não entendemos o motivo. Quando queremos muito ter uma atitude e não conseguimos e repetimos aquele mesmo padrão.

Por que é bom cuidar dessa criança?

Antes de entrar na parte prática, compartilho alguns benefícios da prática de cuidar da criança que existe dentro de nós:

– Ganhamos autonomia;
– Começamos a atender nossas necessidades não atendidas;
– Começamos a nos tratar com mais carinho e isso é fundamental porque se não nos tratamos com carinho, o mundo dificilmente vai nos tratar com carinho.

Como acolhemos a nossa criança interior?

Como fazemos esse movimento de colocar essa criança no colo? Tem um olhar muito bonito que aprendi com Adalberto Barreto, um professor muito querido, e quero compartilhar com você. São três passos:

Passo 1

Quando você percebe uma dor – que você está com raiva, aflita, irritada, com dificuldade de lidar com uma situação, você para diante dela e pergunta: “Essa dor que sinto é da criança de ontem ou do adulto de hoje?”

Passo 2

Qual é a idade dessa menina? Quantos anos ela tem? O que aconteceu quando ela tinha essa idade? O que essa experiência conta sobre essa dor? Onde essa dor começou? Talvez essa dor esteja acontecendo há muito tempo. Essa dor pode ser uma reação a algo que aconteceu com sua criança.

Passo 3

Quando você identificou a idade da sua criança, o terceiro passo é colocá-la no colo e ouvi-la. Muito provavelmente essa criança teve uma necessidade que não foi atendida ou vista. Pergunte o que ela precisa.

Imagine-se pequena, na idade em que você encontrou na investigação. Imagine-se abaixando para conversar com ela na mesma altura dela e converse: “Por que você está sendo tão birrenta? Qual é a sua necessidade, minha pequena?”. E talvez ela te conte a necessidade de afeto, de ser ouvida, de abraço, de colo. A partir disso, você pode entregar para essa criança aquilo que ela não recebeu.

Esse é um processo muito lindo de cura e que traz muita autonomia para todas nós. Ao fazermos isso, paramos de projetar no outro a nossa infelicidade. Paramos de jogar na mão de alguém aquilo que não recebemos. Pode ser que aquele adulto que cuidou de nós não tivesse recursos para nos entregar. Agora, como adultas, podemos fazer isso por nós.

É um olhar libertador, que traz integração para muitas feridas que vivemos. Muitas vezes porque nossa criança não foi ouvida.

Seja qual for a idade, coloque essa criança no colo. Faça carinho nela e entregue o seu melhor. Olhe para ela como uma criança que está aprendendo – faça isso com gentileza, respeito e disponibilidade.

Quanto mais você treinar esse olhar, mais as coisas podem se acomodar dentro de você. Quanto quanto mais puder ouvir e cuidar da sua criança, mas ela ficará confortável e se sentirá segura.

Se ela sente insegurança e medo, você pode dizer pra ela: “Vem cá, deixa eu cuidar de você, agora eu sou adulta e estou aqui pra te proteger e te cuidar. Confia em mim!“

Esse é um assunto que me emociona muito porque já vi muita cura acontecer em processos que anfitrio. Já curei e integrei muita coisa em mim também passando pelo acolhimento da minha pequena, da pequena que eu sou, na imagem da matrioska.

Acolher a criança traz de volta uma parte que talvez estivesse de fora – mas não pode ficar de fora porque sou eu, é a minha integridade, a minha inteireza.

Espero que este texto contribua para seu processo de autoconhecimento. Eu espero que ele traga para você pontos importantes sobre suas histórias, sobre aquilo que você não teve espaço para ver quando era criança.

No fundo, esse é um exercício de autorresponsabilidade. Mais do que acolher a nossa criança, é acolher as nossas dores. É entender que podemos fazer isso por nós. Podemos entregar para nossa criança aquilo que ela não teve.

Assista ao vídeo que fiz sobre esse tema:

Me conta se esse tema também te toca e de que forma. Ele poderá ser potente também para compartilhar com suas amigas e com pessoas que você sentir que poderão se beneficiar do conteúdo.

Sente que quer mergulhar mais sobre esse tema e precisa de alguma profissional para te apoiar nessa investigação? Eu posso te conduzir. Te convido a conhecer a Terapia e Terapia Breve.

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