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Autoria do texto: Jef

Sábado, 15/04/17, fui ao espaço Satyrus 1 assistir a uma peça chamada “Borboleta Dandara” baseada em uma história real de uma transexual assassinada desumanamente e com seus momentos finais filmados pelos seus algozes.

A emocionante história de Dandara

A história de sua vida é uma realidade muito chocante. Fernando, um menino abusado sexualmente pelo próprio pai durante toda a sua infância em troca de mimos e presentes, tinha uma mãe, talvez alcoólatra, que não enxergava o que acontecia dentro de casa.

Com toda a sua inocência, Fernando amava a família que tinha, mas era maltratado na escola pelo seu jeito delicado de ser.

Aos 15 anos, em sua festa de debutante, Fernando se apresenta para a família e amigos como Dandara.

Sua escolha de se entregar ao que sentia e acreditava, causou muita revolta em sua família, inclusive com seu tão amado Pai, que o repudiou até o dia de sua morte.

Dandara, sem entender o porquê tudo isso acontecia, só desejava ser aceita pelas pessoas que amava. Ela foi se perdendo, sofrendo cada vez mais.

Ela se envolveu com drogas, viciou em cigarros… mesmo superando todas essas compulsões, uma nova surge, a compulsão pelo sexo, que acabou se tornando sua fonte de renda.

A identificação com a peça

Não sei o quanto a estória teatral Borboleta Dandara se aproxima da realidade, mas os fatos apresentados me fazem concluir que Dandara e eu não somos tão diferentes. De fato, praticamente todos os elementos de sua vida também estão presentes na minha. Nós compartilhamos dos mesmos padrões, com desfechos diferentes.

Talvez ela tivesse sido mais corajosa do que eu quando resolveu se assumir aos 15 anos, não como gay, mas como uma transexual. Me lembro bem que quando eu era uma criança, eu gostava de me vestir como mulher, de me imaginar como uma e as vezes desejar ser uma. Talvez o medo pela forma como a sociedade sempre abominou tudo isso me manteve calado diante dos meus desejos.

A forma como a nossa sociedade vê o transexual é completamente desumana. É claramente o machismo destruindo a energia feminina que há dentro dele. Acredito que os gays, transexuais, andrógenos, lésbicas, binárias, não-binárias e tantas outras crianças de nossa geração que nasceram com algum conflito de gênero estão aqui para nos mostrar um novo caminho.

Um caminho que quebra com a grosseira imagem da energia masculina separada da energia feminina, tendo a sua união única e exclusivamente destinada à procriação. É claramente visto que essas crianças nasceram com talentos incríveis e construtivos para a sociedade que vão além da procriação.

A realidade de Dandara não é diferente só porque ela é uma transexual. Ela foi vítima do mesmo ódio que mulheres e crianças sofrem todos dias pela tirania do machismo, em uma guerra inútil contra o poder feminino que só causa dor e sofrimento.